Ao respeitável público

Texto: Emiliana Carvalho

A filosofia circense é a itinerância. Ver as pequenas bandeiras que tremulam no topo da lona ao sabor do vento, em terras desconhecidas, é a vida de quem se entrega à milenar tradição do circo.
Sob a grande tenda vermelha e azul do quase centenário Circo Europeu assiste-se palhaços a revelar o riso fácil das crianças e a resgatar no adulto um breve contentamento, um alívio imediato em meio a crueza quotidiana.
Pendurada em longo tecido, a acrobata, assim como a trapezista, voa sobre as cabeças atentas do público, revelando belos e mensurados movimentos de corpo.
As curvilíneas dançarinas gravam no solo rastros da dança tribal africana, ensaiada para distrair o olhar de quem reserva poucas horas do dia para adentrar em um mundo de magia.
Uma volta pelos bastidores revela-nos outro encanto: a relação de afeto e cumplicidade entre a elefanta Leyde e seu cuidador, China (como é popularmente conhecido o ex-trapezista, Maércio Neves). Leyde transita livremente em uma área reservada a ela, ao lado do trailer onde China e sua esposa, Mery residem. O olhar sempre atento do cuidador dispensa o uso de abomináveis correntes. Ambos formam uma dupla harmoniosa que transmite ao observador, respeito, cuidado e carinho mútuos.
Ao sentir o fio de amor que parece uni-los refletimos sobre a condição de liberdade a que todos os animais têm direito. Isto, nossa consciência instintiva e social avançou, graças ao movimento de Libertação Animal. Quase todos concordam que o melhor para estes animais é viver em seu habitat natural, sua verdadeira liberdade. Mas, também nos permitimos apreender a beleza da amizade e da interdependência entre Leyde e China, que já dura 26 anos, e que por algumas horas contemplamos.
Mais de 60 pessoas, entre funcionários e artistas, se dedicam à produção dos espetáculos. A luz do picadeiro não pode apagar. Mesmo adaptando-se aos novos tempos para não ver morrer nas mãos da modernidade esta arte milenar, o Circo Europeu ainda conserva em suas características físicas e em seus espetáculos os traços da tradição, que não se extinguirá, “não, enquanto houver contato com o povo”, como exclama o secretário de frente, Ciro Bezerra; “não, enquanto houver crianças” como bem lembra o líder da trupe, Átila Pena.
Foi sobre esse ambiente de gente- que- leva-a -vida- pelo- mundo- afora que nós resolvemos imprimir, aqui, nosso olhar infantil.
Respeitável público, tenho a honra de apresentar, as lembranças poéticas da pedagoga Maisa Antunes, do dramaturgo Edmar Conceição, da contadora de histórias Glaucineide Rodrigues e as impressões imagéticas do fotógrafo documentarista Marcos Cesário sobre o mundo do circo!  

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"No trailer de China e Mery, a foto dos seus filhos, trapezistas da Trupe Neves no Circo Buoglione, França"





Sapatos do Palhaço, 'descansando' na soleira do trailer, antes do espetáculo"





"Maçãs do Amor, sabor da vida circense"






"Elefanta Leyde e China, prontos para subir ao picadeiro"






"Menino vendendo doces no Circo Europeu"






"Acrobata sobrevoa o picadeiro do Circo Europeu"






"O público e o acrobata"






"O Circo Europeu prepara-se para seguir com sua itinerância"