O palhaço trapezista – O trapezista palhaço


                    por Maisa Antunes        
                                                                                                       
Era um alvoroço, a chegada do circo no bairro. Meninos e meninas corriam para lá todas as tardes, espiando os animais presos e tecendo olhares curiosos sob aquele estilo de vida e tendas espalhadas perto da praça, ou em um grande terreno em desuso.

Os trocados de moedas ganhavam um valor nobre: a entrada nas apresentações das matinês aos sábados. Não ir era na certa ficar com inveja de quem foi, pois os colegas não poupavam os comentários das experiências de subir no palco, de cantar, além de assistir ao espetáculo, a euforia de participar das brincadeiras junto aos artistas de circo.

Mas naquela ocasião teria uma garotinha de 12 anos algum motivo a mais para atravessar a fronteira do mundo mágico daquelas lonas? Parece que sim, ali se iniciava a primeira das muitas desventuras do amor, a paixão por um palhaço. A multiplicidade de personagens há muito a cativara. De palhaço a trapezista ele exibia um belo movimento no palco. Fora do palco tinha uma desajeitada e atraente timidez.

Com determinação no trapézio, e um jeito moleque no palhaço apresentava seu número à expectadora de plantão. Ela ria de todas as piadas e brincadeiras dele, hoje não se sabe exatamente por quê, se eram mesmo engraçadas ou se era seu estado de espírito que a fazia rir tanto. 

No final das apresentações do trapézio o collant azul do trapezista palhaço respirava junto com o corpo satisfeito pelo número concluído. A menina às vezes ficava preocupada, com medo de que ele caísse, e se machucasse, mas ele era seguro e engraçadamente genial. E ela aplaudia até ficar com formigamento nas palmas das mãos.