O circo que vive em mim

por Glaucineide Rodrigues


O sonho de ir ao circo sempre me hipnotizou...
Outro dia imaginei que seria melhor não conhecê-lo. Ouvia como referência de palhaço, um genitor mascarado de pai... nunca achei justa esta equivalência. “Os palhaços não merecem isso” - imaginava depois de um dito constante, em tom negativo: “Pai, não, ele é seu palhaço!”.
Somente aos 40 anos fui a um circo, com meus filhos. Passei a noite que antecedia, desenhando meu circo: palhaço inventor de risos provocadores de muitos outros risos... crianças, adultos e velhos derretendo-se em lágrimas sorridentes. Precisava de um intervalo para descansar as bochechas... e... lá vinha, flutuando em música, a brilhante bailarina... voava com ela ao além do além...  o mágico surgia de um nada e, aos meus olhos sonhadores, via surgir o impossível.  Um belo mundo de artes risonhas era arquitetado na minha alma.
Quão feliz é o palhaço... a bailarina...o mágico...o equilibrista...o malabarista ... a vida de quem contempla ou vive no circo!
A noite se esticou, mas o amarelo-ouro do Sol me fez levantar ansiosa; pus um vestidinho de moleca e sapatinhos quase de cristal. Quis ser criança, como meus filhos, pois ia ao CIRCO pela primeira vez...!
Entrei numa espécie de guarda-chuva gigante com um público sapeca, alegre, aguardando o anúncio do show... Ecoaram palmas e gargalhadas em todas as apresentações. Ri apenas de algumas. O “meu circo” era mais bonito... mais risonho... mais poético... mais de mentirinha... Saí triste: “Esperei muito do mundo circense!!” Mas continuo certa de que o conceito de palhaço, que tanto ouvi, é agressivo para aquela carinha colorida que faz cócegas em muitas vidas.
Em casa...  
O recolhimento me fez bem... Logo a escuridão da noite brilhou no meu quarto. Voltei ao belo espetáculo do “meu circo”- esta contemplação ingênua que é metade de mim.